Um contraponto ao discurso oficial de privatização de Fortaleza

Neste artigo, o economista André Lima questiona a farsa das parcerias público-privadas como saída para o desenvolvimento urbano

Fortaleza: cidade à venda

A Prefeitura Municipal de Fortaleza acaba de divulgar um conjunto de 15 áreas da cidade que podem vir a ser objeto de Operações Urbanas Consorciadas (OUC´s). Dessas, 6 estariam prontas pra implantação no curto prazo. A medida foi anunciada pela secretária da SEUMA, Águeda Muniz, como “um novo olhar sobre a cidade”. Será mesmo?

OUC´s são um tipo de parceria público-privada previstas no Estatuto da Cidade que têm aplicação de acordo com o local de implementação. Por exemplo, nos EUA tiveram um caráter mais liberal, na Europa ocorreram com um maior controle do Estado. Em artigo sobre a experiência de São Paulo, Ermínia Maricato e João Whitaker Ferreira, mostram que as motivações não foram o planejamento urbano ou um estudo a partir dos interesses da sociedade civil, mas uma resposta à uma demanda específica do setor imobiliário de ponta.

Segundo os autores, formou-se um grupo de pressão sobre o poder público que contava com arquitetos de renome com interesses na operação, alguns que exerciam funções de assessoria na Prefeitura. Qualquer semelhança com a nossa realidade não é mera coincidência. A forma como as OUC´s foram lançadas: na mídia e através de um evento direcionado a investidores; é um sinal dos interesses não revelados que existem por trás da iniciativa.

A dita coordenação da gestão pública se dá só na aparência, pois, onde não há promessa de lucro não há investimento privado. Simples assim. Nesse tipo de empreendimento o município entra com um aporte essencial para a reprodução do capital especulativo. Não é à toa que a atual gestão da PMF expõe a cidade como um “grande negócio” justamente num momento de desaquecimento do mercado imobiliário.

Com as OUC´s a cidade pode ser vendida em fatias e oferecida de bandeja para um mercado imobiliário sedento por novas fontes de lucro. Para o prefeito Roberto Cláudio e sua equipe, o planejamento urbano é algo puramente técnico e normativo, leia-se: a população deve passar longe das instâncias decisórias sobre a produção do espaço da cidade. Nesse sentido, a maioria da população é vetada de exercer o elemento fundamental do direito à cidade: a participação popular.

Vale lembrar que a secretária Águeda foi premiada pelas construtoras por sua agilidade na hora de liberar alvarás (veja aqui) e o prefeito Roberto Cláudio foi agraciado com o prêmio “Fiec — Desenvolvimento Setorial”, por iniciativa do Sindicato da Construção Civil do Ceará, Sinduscon (veja aqui). De fato, os gestores à frente da Prefeitura de Fortaleza são campeões na defesa dos interesses do capital imobiliário.

O próprio nome do programa, “Fortaleza competitiva”, deixa nítida a ideologia neoliberal que hoje domina a gestão municipal. Nela, a natureza é um mero ativo financeiro. Não há nada de novo. Trata-se do velho olhar elitista, segregador e mercadológico de sempre. Por uma cidade solidária, participa e do bem viver!

André Lima Sousa é economista, professor, doutorando em Geografia pela UFG e apaixonado por Fortaleza.

 

Compartilhar:

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *